O despertador toca às 6 da manhã. Cinco minutos depois de eu ter ferrado no terceiro sono. Abrir a janela ou deixá-la fechada é igual, a escuridão é a mesma. Visto a roupa escolhida seis horas antes, quando pus um par de calças, t-shirt, blusa, cuecas e peúgas na mochila. Indumentária casual, confortável e discreta. Duas sandes, muitas barritas de cerais, iogurtes e água. “Tá no ir”. Duas paragens, duas companheiras de viagem, e o trio ruma a Algeciras.
A gasolina está a oitenta e poucos cêntimos em Espanha, trinta euros atestam o depósito do meu carro, aka raiozinho, e quatro horas depois estamos com os bilhetes do barco na mão. Algeciras afigura-se-nos como um gigantesco porto industrio-comercial rodeado por uma cidade. Homens de aparência duvidosa oferecem-nos “ajuda” para estacionar o boguinhas e direccionar-nos, mas as placas informativas são claras e a nossa desconfiança aguçada. Não sem um aperto no coração, deixo o bólide na avenida paralela ao porto, à guarda de um velhote alcoolizado que falava sozinho. “Fica bem guardado”; humor não nos falta! O barco parte a horas e veloz, mas o mediterrâneo está alvoroçado e há estômagos a sair pela boca à nossa volta. Fecho os olhos e adormeço, eu durmo em qualquer lado. Meia hora depois, pomos pé noutro continente.
Ceuta é uma cidade limpa e cuidada, solarenga e totalmente voltada para o mar. As distâncias são pequenas e a pé chegamos ao nosso hostel. O meu portunhol desenrasca-nos bem, e as amizades do recepcionista não evitam um “uau, portuguesas guapíssimas”! Ignoramos; a decoração ikea é simples e muito acolhedora e o nosso quarto faz-nos as delícias. Saímos a calcorrear a cidade e quase que damos a volta à península. Ao lusco-fusco procuramos um restaurante para jantar, mas nuestros hermanos jantam tarde e antes das 21h não entramos em sítios com comida de dimensões maiores que tapas. Fazemos uma espera à porta da Trattoria Firenze, que uma sandes, barritas e iogurtes não aguentam mais! Saímos de lá a rebolar, e a dormir em pé. Plano para o dia a seguir: incursão a Marrocos.
Seis da manhã continua a ser a alvorada, e o escuro lá fora é o mesmo. Meio sonâmbulas, vestimo-nos, comemos e vamos em busca de cafeína. Felizmente que há sempre algum boteco aberto! O bus número 7 espera para nos levar até à fronteira, e seguimos com mais 3 pessoas até ao final da linha. Sem saber bem os trâmites, decidimos ir atrás de uma rapariga de passo confiante. A zona da fronteira é uma estrada ladeada de muros encimados de arame farpado, com casinhotas pré-fabricadas (vulgo galinheiros) e alguns polícias. Sair de Espanha é só continuar a andar, e já quase chegamos à porta de entrada de Marrocos quando o polícia nos explica que temos de voltar atrás “ao guichet 3” para preencher um impresso. De porta em porta chegamos ao dito guichet, onde nos perguntam a cidade destino, e o nome que nos tinham apontado como “don’t miss” era Chefchouen. O polícia rabisca qualquer coisa diferente e começamos a duvidar da nossa pronúncia para acertar com a cidade! O plano era apanhar um táxi… escrevi na mão pela via das dúvidas, e voltámos a dizer “Chefchouen”, ao que o polícia acede com a cabeça. “A algum sítio iremos dar!” “É fácil apanhar um táxi?”, perguntamos. Outro aceno. Encolhemos os ombros e vamos.
Do lado de lá deparamo-nos com um grupo grande de taxistas que nos rodeiam. Um deles pergunta num francês macarrónico para onde queremos ir e faz-nos sinal para o seguirmos. “Calma! Combien? Combien?” A negociata faz-se com um intermediário a traduzir do francês para o árabe, e uma de nós a traduzir-me do francês para o português. E uma plateia de taxistas risonhos, a tentar perceber por quanto é que vão engrupir as estrangeiras. Pedem 60 euros para 150km. Conseguimos por 45, e a sensação de estarmos a pagar muito mais do que era suposto. Mas já íamos alertadas para o encarecimento de alugar um táxi só para nós, ao invés do sistema comunitário de partilha que vigora. O taxista expulsa a árabe que já se tinha instalado no banco traseiro do seu veículo e leva-nos pela marginal que percorre a costa, continuando para dentro até ao nosso destino. Vai-nos dando o nome das terras por onde passamos e aponta para as manadas de gado, feiras de animais ao ar livre, campos agrícolas e casas pobres dizendo “Marruecos, Marruecos!”, e paga-nos um café numa estação de serviço. Oferecemos-lhe um halls (parca moeda de troca…) e ele responde “chucram” (obrigado), “Chocolate? Vai ficar desiludido!”. Duas horas depois estamos em Chefchuen.
A nossa primeira demanda é por uma casa de banho, que conseguimos num café inteiramente povoado por homens. Pedimos dois cafés e vamos à vez. Sanita não existe, só buracos no chão.
Vamos passear pela vila, e em menos de nada damos a volta ao mercado rural que parece ser a única coisa a ver. Galinhas vivas convivem com galinhas depenadas e nacos de carne pendurados na rua, rodeados de moscas. A nossa decepção vai sendo difícil de conter, não acreditamos no que nos recomendaram… Sentadas à sombra do meio-dia, a comer bolachas, reparamos num grupo de espanhóis com guia. Misturamo-nos e vamos atrás. Dirigem-se para um arco na muralha por baixo do qual está um vendedor de quinquilharia. “Irão comprar alguma coisa? O que raio haverá ali?” Ali havia a entrada para a Medina de Chefchouen… e entramos num outro mundo! Ruelas estreitas e azuis, casas de portas abertas, hotéis, hosteis e lojas, muitas lojas. Desembocamos numa praça aberta, gente por todos os lados, cafés e restaurantes, mesquitas e uma casa típica para visitar. Ouvimos o “Alláh Akbar”, compramos uns narguilés, vagueamos pelas ruas, bebemos chá… Ao final do dia, regressamos a Ceuta com o nosso taxista. Jantamos na “nossa” Trattoria e pouco depois aterramos na cama, exaustas.
O dia a seguir já desponta com luz e um passeio matinal. “Ceuta, cidade das compras” é o que o slogan diz, mas não percebemos bem porquê… Check out, barco, Algeciras de novo. O meu raiozinho à nossa espera, um suspiro de alívio! Gibraltar é do lado de lá da baía. Esperava mais uma zona natural e preservada e não tanto uma cidade… Entramos em território “british” e seguimos até ao Rochedo, a entrada paga-se mas a vista é deslumbrante. Conhecemos os macacos, cujo principal intuito é roubar-nos os pertences em busca de comida, visitamos as grutas que albergam uma sala de espectáculos, os túneis escavados pelos soldados, a aldeia que aguentou o cerco, o castelo mouro. E continuamos até ao “Europa Point”, onde vemos 2 continentes e os 3 países.
Saciadas de um fim semana completo, já saudosas da próxima viagem, regressamos a casa.
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Escapadinha para o outro lado…!
rascunhado by Little Tomato at 14:18
outras que tais passeios e viagens e não só
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
ooooooooooh coitada da árabe que o taxista expulsou!!! deve-vos ter rogado cá umas pragas!!!
Fds em grande :)
Isso é que foi um belo passeio de fim de semana! Até fiquei cansado com o relato! Lol!
Beijinhos!
Enviar um comentário