"Detesto sentir que para ti sou mais uma com quem podes passar a noite de vez em quando, se quiseres. Não aceito isso, sabes bem", disse ela. Havia passado a noite a decidir se lho dizia ou se deixaria passar em branco, deixá-lo pensar o que quiser... Até porque nada mais tinha acontecido desde aquela vida passada em que por umas semanas se deixou levar num entusiasmo duma... duma quê? Já nem sabia. Manter uma amizade ténue apenas escondia uma ligação que restou, um carinho guardado pelo que de bom deixou nela e nem sabe. As brincadeiras que partilham hoje são resquícios duma cumplicidade partilhada, com sabor a falso. Não se quer quebrar o encanto, já perdido. Não se fala do que ficou por dizer. Muitos menos do que ficou por sentir. Ele não sabe quem ela é.
Os egos mantêm-se mutuamente com palavras que navegam ao sabor de tempos a tempos. Cobram-se atenções que não tencionam dar. Pouco ou nada sabem um do outro.
“Sabes que para mim és especial”, responde ele. Mas a resposta soa igual a todas as outras vezes, a todas as outras alturas em que por qualquer motivo procuraram uma pequena aproximação. Pequena, tão pequena que a conta dos cafés já vai alta… os cafés que ficaram por tomar, as conversas que ficaram por ter, as viagens que ficaram por fazer… Nada se cumpriu e apenas as palavras continuam a existir.
E mesmo essas…